sexta-feira, 20 de julho de 2012

14

[Resenha] DOM CASMURRO



Sinopse: Machado de Assis (1839-1908), escrevendo Dom Casmurro, produziu um dos maiores livros da literatura universal. Mas criando Capitu, a espantosa menina de "olhos oblíquos e dissimulados", de "olhos de ressaca", Machado nos legou um incrível mistério, um mistério até hoje indecifrado. Há quase cem anos os estudiosos e especialistas o esmiuçam, o analisam sob todos os aspectos. Em vão. Embora o autor se tenha dado ao trabalho de distribuir pelo caminho todas as pistas para quem quisesse decifrar o enigma, ninguém ainda o desvendou. A alma de Capitu é, na verdade, um labirinto sem saída, um labirinto que Machado também já explorara em personagens como Virgília (Memórias Póstumas de Brás Cubas) e Sofia (Quincas Borba), personagens construídas a partir da ambigüidade psicológica, como Jorge Luis Borges gostaria de ter inventado.


Por: Sueli de F. Z. Sousa




Na segunda metade do século XIX, a literatura não pode mais viver da idealização do tempo romântico. Entra em cena a arte mais objetiva e que atenderá aos desejos do momento que era: analisar, compreender e criticar a realidade. Assim, surge as três correntes literárias realismo, naturalismo e parnasianismo.
É com Machado de Assis e sua obra Dom Casmurro, pulicada em 1899, que se analisa psicologicamente as personagens, tornando-se um romancista brasileiro de interesse universal. Dom Casmurro tematiza o adultério, sob o olhar do narrador personagem e explora como motivo literário, o triângulo amoroso nas personagens Bentinho, Capitu e Escobar.
No romance, Capitu e Bentinho se conhecem desde crianças, sempre juntos, começam a se amar. Ele está destinado ao seminário por uma promessa da mãe, mas é desfeito o compromisso e então casa-se om Capitu e tem um filho, Ezequiel.
Os dois possuem uma amizade com Escobar e sua mulher Sancha. Escobar morre e no velório Bentinho observa Capitu e estranha sua reação diante do defunto, o que o leva a suspeitar da fidelidade da esposa, sendo agravado pelo fato de achar que o filho de parece com Escobar. As desconfianças de Bentinho levam à separação do casal.
O romance traz-nos uma visão ambígua dos fatos, oscilando entre dois polos: Capitu traiu ou não Bentinho? Fascinante como Machado de Assis provoca no leitor o interesse de decifrar a enigmática personagem feminina da literatura brasileira. Romance que perpassa todos os tempos e com sua incrível proeza o autor prende-nos aos capítulos, pois provoca questionamentos e opiniões pessoais, mas nunca saindo da expectativa de respostas, tudo é uma incógnita.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

4

[Resenha] JANE EYRE




http://skoob.s3.amazonaws.com/livros/1703/JANE_EYRE_1324350518B.jpgSinopse: Jane Eyre é uma menina órfã que vive com sua tia, a sra. Reed, e seus primos, que sempre a maltratam. Até que, cansada do convívio forçado com a sobrinha de seu falecido esposo, a mulher envia Jane a um colégio para moças, onde ela cresce e se torna professora. Com o tempo, cresce nela a vontade de expandir seus horizontes. Ela põe um anúncio no jornal em busca de trabalho como governanta. O anúncio é respondido pela senhora Fairfax, e Jane parte do colégio para trabalhar em Thornfield Hall. Lá, ela conhece seu patrão, o sr. Rochester, um homem brusco e sombrio, por quem se apaixona. Mas um grande segredo do passado se interpõe entre eles.



 

 
        Este é um livro clássico trágico e dramático de Charlotte Brontë (1816-1885), escritora proveniente da era vitoriana, época em que mulheres eram contestadas caso escrevessem, mas esta, juntamente com suas irmãs Emily e Anne Brontë, ocupam ainda hoje espaço considerável na literatura inglesa.
              A trama passa-se no séc. XIX e conta a história de uma garotinha órfã chamada Jane Eyre, deixada aos cuidados da sua tia Sra. Reed, mulher do seu falecido tio Reed.  No entanto, os primos de Jane odiavam, maltratavam e espancavam a órfã (principalmente seu primo John).
             Jane revolta-se com a situação, aos olhos da tia torna-se uma criança mentirosa, mal criada, malvada, e decorrente das falsas acusações termina por ser enviada a um colégio. No instituto Lowood, a garotinha passa por dificuldades, mas é lá onde encontra o amor e a amizade através de sua preceptora miss Temple e sua amiga Helen Burns, que acaba por ser prematuramente levada pela morte e tirada dos braços de Jane.
         Os anos passam, e aos 18 anos decide emancipar-se, buscar uma oportunidade de ser livre e feliz. Assim, escreve um anúncio ao jornal em busca de um emprego como preceptora, acabando por ser solicitada pela governanta de Thornfield Hall, a senhora Fairfax, para cuidar de uma garotinha francesa de nove anos, tagarela, fútil, enérgica e barulhenta chamada Adèle.
             Nesta casa de família, sombria e misteriosa, desenrola essa história, e é em Thornfield onde Jane reencontra mais uma vez o amor, vivendo junto ao misterioso e temperamental Mr. Rochester; descobre nesse lugar sua verdadeira casa, sua felicidade e alegria.
              Garota jovem, porém sem beleza e atrativos, pequena e obscura, Jane chama a atenção de Edward Rochester, dono de Thornifield Hall, por sua sinceridade, singularidade e simplicidade. É difícil captar o romance, pois de forma implícita e quase imperceptível, aos pouquinhos se desenrola certo interesse de ambas as partes e Edward, um homem de feições um tanto feias, porte grande, retratado como um serzinho cínico, arrogante, orgulhoso e solitário, com seus desvios de personalidade e atitudes bruscas, aos poucos conquista Jane, que mais do que as ações rudes, compreende o espírito desse grande homem, vê sua bondade, compaixão e encontra igualdade com sua alma e coração, mesmo havendo diferença de classes e certos impedimentos provindos do passado do Sr. Rochester, que Jane mal conhecia.
           Contudo, o que parecia ser um romance apático, mostra-se cheio de surpresas e conflitos. A personagem aparenta ser controladora de suas ações e de sua realidade, mas o destino reservará certas intervenções. Depois de tentativas de assassinatos, mortes e incêndios, a história termina aprazível e feliz, com certas marcas do passado, mas marcas que o tempo poderá apagar e amenizar.
             Nesta história há um mistério que nos choca, mas por fim mesmo com todas as dificuldades impostas pelo destino, o livro nos cativa com a doçura de um amor além da aparência, além das condições sociais, além da maldade e loucura.
         É um livro belo e diferente, característico de Charlotte Brontë, com personagens obscuros, mas que pela força do caráter não passam despercebidos. Sua heroína não é bela, indefesa e ingênua, e sim carrega grande sabedoria, profundeza de espírito, heroína sem fortuna, mas vigorosa, dona de sua vida e seu destino.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

2

[Resenha] DIÁRIO DE UM MAGRO





Sinopse: Depois de 'Schifaizfavoire' e 'Mas será o Benedito?', Mario Prata traz agora um verdadeiro diário de magro. Com muito humor, ele conta a sua jornada em um spa e os personagens que encontrou por lá. Mario Prata e Fernando Morais (que prefacia o livro) estiveram juntos no spa durante quinze dias. Achavam que iam encontrar pessoas chatas e tristes. Foi puro engano. O resultado está no relato divertido contido nas páginas deste livro, mostrando um spa por dentro. As ilustrações do livro são de Paulo Caruso.

Por: Sueli de F. Z. Sousa


Além de gostar muito do estilo de produção do autor, o que chamou a atenção e provocou curiosidade para a leitura desse livro foi o fato de lembrar-nos a obra “Diário de um Mago”, de Paulo Coelho, mas com a substituição da última palavra por “magro”.
Prata trata de sua ida para um Spa e a convivência com pacientes obesos. Todas as peripécias dos “gordinhos” para conseguir, escondido, alimentos engordativos, mas a alegria presenciada pelo autor que definiu os “gordinhos” como muito simpáticos e alegres.
Provocou muitas risadas gostosas durante a leitura. Podemos lembrar uma parte em que o ônibus do Spa leva seus integrantes para um passeio em um determinada praça, em que iam fazer caminhada, mas o improvável aconteceu. Uma escola resolveu levar os alunos para excursionar, os “gordinhos” conseguiram ludibriar as criancinhas e simplesmente tiraram os lanches dos pequenos.
A parte que mais gostei foi quando paciente é mandado embora por ser pego com doces e para se vingar manda um helicóptero jogar bombons no pátio do Spa e os pacientes quase se “matam” pra pegá-los.
Livro fácil de leitura, agradável e de muito humor, provocando interesse principalmente por tratar do assunto da obesidade de forma tão alegre e despojada.
10

[Resenha] A ABADIA DE NORTHANGER




Sinopse:A Abadia de Northanger é considerado um dos trabalhos mais ligeiros e divertidos de Jane Austen. De facto, para além dos ambientes aristocráticos da fina-flor inglesa do século XVIII, encontramos aqui uma certa dose de ironia, sátira e até comentário literário bem-humorado.

Catherine Morland é porventura a mais estúpida das heroínas de Austen. A própria insistência no termo “heroína” ao longo da obra e a constatação recorrente do quão pouco este epíteto se adequa à personagem central fazem parte da carga irónica da história. E se Catherine é ingénua para lá do que seria aceitável, e o seu amado Henry a personificação de todas as virtudes masculinas mais do que seria saudável, a perfídia dos maus da fita - amigos falsos, interesseiros e fúteis – não lhes fica atrás no exagero. Tudo isto seria deveras irritante não fora o tom divertido com que Austen assume ao longo das duas partes que constituem este livro o quão inverosímeis são as suas personagens…

Acrescente-se a paródia do romance gótico e do exagero em que induz as suas leitoras, e uma crítica inteligente aos críticos que acusam o romance de ser fútil e “coisa de mulheres”, e temos uma interessante historieta de amor, escrita com bastante graça e capaz de ultrapassar a moralidade caduca que nos habituámos a esperar da pena de Jane Austen. 





O livro já inicia destacando a inferioridade de condições da protagonista que se torna obstáculos à formação de sua imagem como heroína: “Ninguém que tivesse visto Catherine Morland quando criança teria imaginado que ela nascera para heroína. Sua situação de vida, o caráter do pai e da mãe, sua própria pessoa e disposição, tudo ia contra ela”. Ela é o oposto do ideal, tanto em aparência quanto em personalidade: não possui feições bem definidas nem inclinação para os estudos, possui uma vivacidade que a impede de realizar as tarefas mais comuns às mulheres.
Esse é um prelúdio para conhecermos a sociedade do século XIX e o que o senso comum julgava as virtudes e dotes necessários a uma moça para que seja reconhecida.
Catherine deseja ingressar nessa sociedade que supostamente lhe ofereceria uma vida cheia de emoções como as dos livros que lia e tanto faziam fluir sua imaginação. Nada melhor para seu espírito vivo do que os romances góticos, cheios de personagens bizarros e situações surpreendentes. Isso começa a acontecer quando viaja para Bath. Frequenta bailes e passeias com a senhora Allen, com quem se hospeda e conhece pessoas que futuramente a decepcionarão e também pessoas que farão maior parte da sua vida como também aquele por quem virá a se apaixonar, Henry Tilney, um jovem cavalheiro de posses.
Posteriormente, tem sua estadia na misteriosa Abadia de Northanger, morada de seus mais novos amigos e onde viverá um conflito pessoal entre o imaginário e a realidade.
Nesses dois ambientes ela lida com situações que fazem-na imaginar-se como no clímax dos livros e também com pessoas que lhe fazem repensar seu julgamento inicial sobre o ser humano.
É no decorrer do livro que a protagonista cresce e se tornar mais próxima do ideal de heroína e com o fim de suas ilusões, da forma idealizada e romântica que via a vida e os seres humanos, que é acrescentada à sua personalidade um pouco da melancolia necessária às protagonistas dos livros românticos.
A Abadia de Northanger é, pois, um livro que merece sua autora. Jane Austen mescla a crítica da sua época, dos usos e costumes com a crítica à literatura dos romances góticos, com seus exageros, nos quais Catherine é viciada. Sua temática incomum de uma heroína imperfeita, mas que possui uma integridade e disposição de caráter que a torna adorável e impede de ser vista com maus olhos, nos arrebata desde o começo do livro. É uma leitura divertida que nos faz sentir próximos a Catherine por sua simplicidade, confusão e ingenuidade, e mesmo que não possua grandes acontecimentos, nos sentimos presos a essa personagem que se torna muito querida, mesmo não fazendo parte daquele ideal e por fim torcemos para que o elemento essencial aos romances, que é o amor, se concretize, mesmo parecendo tão improvável no decorrer da narrativa.